Pré-Modernismo
O Pré-Modernismo no Brasil foi o período compreendido entre
1902 e 1922. Esse período não se constitui como uma “escola literária”, pois
não temos um grupo de escritores que apresentem características comuns em
relação à temática e à linguagem em suas obras literárias. Na realidade, esse
período pode ser considerado uma fase de transição, na qual coexistiram lado a
lado ideias conservadoras e ideias renovadoras, em relação à literatura e à
realidade brasileira. Nesse período, surge uma literatura voltada para a
realidade brasileira, em meio aos aspectos econômicos, políticos e sociais. Os
autores dessa época, embora tivessem estilos e objetivos bem distintos,
apresentavam um traço comum entre eles: a criação de um Brasil literário, com uma
literatura profundamente engajada com o momento que vivenciaram e a ruptura com
um passado que não podia mais permanecer em meio às transformações da época.
Contexto histórico mundial
Nesse período, a Europa estava passando por uma grande
turbulência política e socioeconômica. Grandes conflitos já estavam visíveis
desde a metade do século XIX na política de alianças das potências europeias:
Tríplice Entente (Rússia, França e Inglaterra) e a Tríplice Aliança (Alemanha,
Áustria-Hungria e Itália). A partir daí, eclode a Primeira Guerra Mundial (1914
a 1918). Ainda em meio a esse conflito, 1917, dá-se a Revolução Russa
(revolução proletária). Após a Primeira Guerra, novos conflitos e crises
econômicas vão surgir.
Contexto histórico no Brasil
Enquanto a Europa se prepara e vive o conflito da Primeira
Guerra Mundial, o Brasil vive a República do “café-com-leite”, dominada pelos
grandes proprietários rurais. Foi a época áurea da economia cafeeira (São
Paulo) e do desenvolvimento do gado leiteiro (Minas Gerais) no Sudeste. Com
essa realidade, deu-se a entrada de grandes levas de imigrantes, em especial,
italianos, para trabalharem nas fazendas de café. O Sul e o Sudeste cresciam
rapidamente, enquanto que o Nordeste entrava em decadência com a cultura da
cana-de-açúcar, devido à ascensão do café. Em meio a essa realidade econômica,
a classe média cresce, surge a classe operária e, paralelamente a isso, os
escravos recém-libertados vivem numa situação de extremo abandono, à margem da
sociedade. Além disso, temos o esplendor da Amazônia, com o ciclo da borracha e
a crescente urbanização de São Paulo.
Ao lado de toda essa prosperidade, que deixa fortes
contrastes na sociedade brasileira, foi o tempo também dos grandes conflitos
sociais em vários pontos do país. Em fins do século XIX, ocorreu a Revolta de
Canudos, na Bahia, liderada por Antônio Conselheiro. No sertão de Cariri, no
Ceará, de 1911 a 1914, formou-se um movimento religioso, denominado Revolta de
Juazeiro, sob a liderança do Padre Cícero e de Floro Bartolomeu, cujas ideias
entravam em confronto com o sistema coronelista. No período de 1912 a 1916,
Santa Catarina viveu a Revolta do Contestado, movimento de caráter messiânico,
cujo líder, o beato José Maria, pretendia fundar uma “monarquia celestial” na
região, na qual não seria permitida a cobrança de impostos nem a propriedade da
terra. Pernambuco, por volta de 1920, Lampião e seus cangaceiros protestam
contra a opressão da vida nordestina e desencadeiam uma série de conflitos.
Houve também manifestações de protestos de ordem urbana e
social. No Rio de Janeiro, em 1904, ocorreu a revolta contra a vacina
obrigatória de combate à varíola e à febre amarela, promovida por Oswaldo Cruz,
médico sanitarista. Em 1910, no Rio, a Revolta da Chibata, a qual exigia o fim do
castigo corporal na Marinha. São Paulo enfrenta os primeiros movimentos das
greves gerais de operários (1917-1919) por melhores condições de trabalho.
Características do Pré-Modernismo
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma escola
literária, podemos perceber alguns pontos em comum entre as principais obras
literárias pré-modernistas:
- Ruptura com o passado, com o academicismo: linguagem não literária, mais realista.
- Denúncia da realidade brasileira: fala-se do sertão nordestino, dos caboclos do interior, dos subúrbios.
- Regionalismo: os autores pré-modernistas colocam em suas obras a realidade do Norte e Nordeste (Euclides da Cunha); o Espírito Santo (Graça Aranha); o vale do Paraíba e o interior de São Paulo (Monteiro Lobato) e o subúrbio carioca (Lima Barreto).
- Tipos humanos marginalizados: sertanejo, nordestino, caipira, mulato, funcionários públicos.
- Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais da época: menor distanciamento entre realidade e ficção.